segunda-feira, 25 de maio de 2015

Adeus


Digo adeus
A amores impossíveis
Gretados de frieiras de verão
Consumíveis e digeridos sem prazo de validade
Descartados como fraldas de incontinência.

Digo adeus
Às amizades que se esconderam
Em tempestades de areia
Esvoaçando véus negros
Em frio deserto sem sol

Digo adeus
A quatro paredes vazias
Debruçadas sobre mim
Sem cor
Já sem memórias
Ou afagos de pregos de aço.

Digo adeus
À confiança derramada
Em delírios de estrelas
Esfarrapadas de teias
Onde insetos negros tocaram
E a morte se acendeu.

Digo adeus à falsidade
Que se insinua invisível
Cravando dardos de sangue
Esventrando toda a alma
Na pele nua que confia.

Digo adeus
Ao ingénuo pensamento
Neurónio de luz fenecida
Acreditando que a vida
Era simples linha reta
Que o ser humano traçava…

Fernando Magalhães


Sapatos

“Esquecidos, no longo vazio do tempo, remetidos para a negra arrumação de quatro paredes de cartão, ainda sonhavam passados:
- Primeiros novos passos, caminhadas inesquecíveis, festas, jogos, bailados à luz da ribalta, música que pés acompanhavam em alegre ritmo…
Agora, ultrapassados e desgastados pela evolução da vida, perdiam-se em recordações de sonhos já finalizados na lembrança de terem sido…
…Mas um toque de magia aconteceu!
Alguém os descobriu no seu sossego tumular. Alguém que os calçara numa mocidade já abandonada.
Olhou-os ternamente:

- Despertaram para a vida relembrando o passado e, no presente, à vista de todos, contam histórias de ontem…e são apenas sapatos hoje!...”

Fernando Magalhães