sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Postal


Hoje caíram diamantes de chuva no meu coração.
Mais pareciam lágrimas derramadas de olhos inocentes de criança.
Eclodiram em Natal de esquecimento onde um Pai Natal, ou um menino Jesus, já nada podiam responder a uma súplica.
 Neste dia, apenas queria a alegria do que tinha tido:
- Paz, um simples brinquedo, uma mesa de iguarias, os meus pais sem discussões, o amor nos corações.
Não percebo o que se passa!
Ser criança, ou ser adulto, neste país já me ultrapassa.
Ouço os meus pais falarem de coisas que não entendo: IRS, seguros, prestações de casa e carro, IMI, Troika, FMI… mas que é isto afinal?
Tem a ver com o Natal?”
Hoje no meu coração vai crescendo esta questão:
Serão lágrimas de diamante,
Ou estrelas que o céu chorou?
Será súplica distante,
Ou revolta que acordou
Fernando Magalhães



sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Paisagens do Imaginário - 7



Acrílico sobre tela - Fernando Magalhães | "Procuramos paisagens que não sabemos se existem, ou se se encontram escondidas no nosso subconsciente. Procuramos-nos a nós, sem sabermos se existimos!..."

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Presépios


Presépios  realizados  em estrutura de arame e liga gessada| Disciplina de Educação Visual e Tecnológica, turmas do professor Fernando Magalhães | Escola EB 2,3 Dr Carlos Pinto Ferreira - Junqueira - Vila do Conde

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Sinto-me num país agonizante

Sinto-me num país agonizante.
Percorro ruas desertas de comércio de portas fechadas.
E em cada passo que dou respiro o ar pustulento duma economia moribunda.
Percorro campos de cultivo onde as ervas daninhas proliferam estrangulando o que a terra paria em agricultura que preenchia necessidades e colmatava fomes.
Passeio junto a um mar que em maré alta de vergonhosos acordos já não carduma o lusitano peixe, afundando a frota pesqueira e importando espécies não autóctones, que inundam superfícies comerciais e mercados que outrora reflectiam a faina de um povo.
Sinto em cada dia que passa a exânime indústria, que encolhida, desaparece às mãos das grandes multinacionais que vomitam máquinas e adereços, roupas e outros acessórios que outrora construíamos.
Vejo com olhos magoados a construção desaparecer e postos de trabalho a perecerem.
Assisto, sem nada ver decretar, as empresas que se afogam sem bóia de salvação, arrastando para o abismo o português de raiz…
…Que procurando um emprego o mandam emigrar, emagrecer, sucumbir, sem saber o que fazer.
Assisto à cultura morrer, ao ensino a expirar, como convém afinal.
Povo inculto não faz frente, é uma sombra aparente ao embuste nacional!
Sinto na alma famílias no desemprego lançadas, que com filhos passam fome em silêncio envergonhado.
Ouço ecos de prantos e gritos, de suicídios, de impotência, de lágrimas que a nada conduzem e na madrugada fenecem.
Vejo olhos em súplica ao céu levantados, esperando que a justiça caia em vingança cruel.
Que políticos são estes, que criando mais impostos, roubam ao povo a dignidade e se governam a si próprios?
Onde pára a liberdade neste país já sem rumo?
Sinto o sangue latejar na vontade da revolta.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Prémio "Cartaz da Paz" do Lions Clube


Entrega a Diana Filipa Gonçalves Martins, turma 6ºF nº6 da Escola EB 2.3 Dr. Carlos Pinto Ferreira, do primeiro prémio a nível local e menção honrosa a nível nacional do concurso "Cartaz da Paz" do Lions Clube. Estiveram presentes o presidente e o responsável pelo Lions Clube de Vila do Conde, professor David Oliveira e Dr. Maia Gomes, o professor orientador Fernando Magalhães, a subdirectora  Margarida Magalhães e a mãe da aluna.


quarta-feira, 13 de junho de 2012

Paisagens do Imaginário - 4


Acrílico sobre tela 34X24cm - Fernando Magalhães

Acrílico sobre tela (tríptico) 54X24cm - Fernando Magalhães

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Paisagens do Imaginário - 3

Acrílico sobre tela, tríptico, 137X52cm - Fernando Magalhães 


Acrílico sobre tela, 50X40cm Fernando Magalhães 

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Paisagens do Imaginário - 2

Acrílico sobre tela 48x30cm Fernando Magalhães 
Acrílico sobre tela 24x30cm - Fernando Magalhães 

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Paisagens do Imaginário - 1

Acrílico sobre tela 20X30cm Fernando Magalhães 


Acrílico sobre tela 20X30cm Fernando Magalhães 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

25 de Abril


1973 – Faculdade de Ciências do Porto

“- Camaradas, não podemos permitir que nos calem à força! Que não possamos discutir os problemas do ensino, a guerra colonial, a ditadura que nos oprime! Temos que lutar pelos nossos ideais, não queremos ser carne para canhão! Queremos liberdade de expressão e pensamento!
Contra a opressão! … Contra a opressão!... Contra a opressão!...”
Coros gritantes de raiva e solidariedade soltavam vozes desamordaçadas que ecoavam nas paredes da Faculdade.
“ – Fujam, a polícia de choque! “ – fez-se ouvir uma voz sublevando os aplausos e os berros  cantados que em  uníssono já entoavam a Internacional  Socialista.
As portas de ferro abriram-se com estrondo e vultos negros de azul entraram em catadupa de fardas, escudos, capacetes e bastões.
A confusão abateu-se e debateu-se na débil tentativa de fugir à fustigada sibilante dos alongados cassetetes que rodopiavam como pás de moínhos soprados por vários ventos demoníacos, em voluteares lancinantes, como lancinantes eram os gritos e gemidos dos atingidos.
Viu-se envolto na confusão, como já se tinha tornado hábito nas R.I.A.”s (reuniões Inter Associações), onde todos os estudantes, desde os liceais, até aos universitários, se tentavam encontrar secretamente, para tomar decisões e ações, que mesmo “naïves”,eram consideradas o grito de alerta para a liberdade do pensamento e da palavra sempre perseguida e manietada pelo poder vigente.
Vários camaradas já tinham sido presos. Amigos, colegas, tanto rapazes, como raparigas e, dependendo da reincidência, agitadores reconhecidos, ou não, tanto dava direito a dormida gratuita nos calabouços com interrogatórios mais ou menos coercivos, ou multa paga pelos pais (dois mil escudos), com severos avisos policiais e posteriores admoestações verbais e até corporais, paternalmente infligidas.
Sabíamos que alguns camaradas passavam vários dias nos cárceres sendo sovados pela polícia e, em casos mais gravosos, enviados e interrogados pela PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado).

Correu às cegas pelos corredores, perseguido por uma sombra que esgrimia, como espada que cortava o ar, a chibata autoritariamente fabricada com aço e couro, que zunia no ar, assobiando canção de dramática elegia.
Ao passar pela cantina, pegou num vaso e, com toda a força, lançou-o sobre o perseguidor que o recebeu bem sobre a cabeça, desequilibrando-o e fazendo-o cair sobre o chão de mármore.
Saltou por uma janela que dava para o “Piolho” (o café mais frequentado pela camada estudantil) e desapareceu correndo, atravessando o jardim da Cordoaria rumo a casa.
Mais tarde veio a saber que o atingido era seu tio e, que se não fosse o pretenso escândalo familiar, teria sido notificado, ou preso em casa, para averiguações.
Durante anos não falou com o tio.

1974 – Colégio Particular no Porto

Tinha reprovado a Físico-Químicas e Matemática.
Tinha feito um poema libertário para o jornal do liceu que foi considerado antirregime.
Tinha tentado matricular-se no mesmo liceu, tendo-lhe sido vedada essa hipótese por ser considerado agitador político e reacionário ao poder que vigorava.
Escolheu um colégio próximo, onde podia, com paralelismo pedagógico, estudar as disciplinas em falta e contactar com os amigos de luta que não faltavam nem falhavam em reivindicações académicas.
“Das Kapital” de karl Marx, Rosa Luxemburgo, Lénine e até Che Guevara, eram mais mitos, ídolos e idiossincrasias, do que conceitos ideológicos ou teorias políticas revolucionariamente assimiladas.
Era um anátema de querer sem saber como alcançar.
Vivia-se a ideia do ser sem saber como.
Do falar, sem conhecer profundamente.
Do viver, por desconhecer.
Mas eram eles, adolescentes revolucionários, ídolos de si próprios, de mãos dadas com outros pretensos ídolos, que respiravam revolução, sonhavam socialismo e acordavam mudança social, igualdade de classes e arco-íris socioeconómico
“ – Sabes que algo aconteceu esta madrugada?” – perguntava Casimiro um colega de luta em manhã de aulas.
- Não, não sei de nada!
- Dizem que houve uma revolução e que o Tomaz e o Marcelo foram de vela!
- Não me acredito pá!
- É verdade! Até já passa a Grândola Vila Morena na rádio!
- Onde ouviste isso?
- Disseram-me, temos que saber!
- O quê, vais pedir ao diretor do colégio que ligue o rádio?
- Não pá! Vamos lá para fora! Compramos um transístor!
- Tens dinheiro? Eu tenho algum!
- Mostra!
Juntaram as moedas que tinham e abandonaram o colégio dirigindo-se a uma loja de eletrodomésticos.
Compraram um pequeno rádio transístor e ligando-o, apenas ouviam músicas marciais e pequenas intervenções do MFA (Movimento das Forças Armadas).
Abraçaram-se e saltaram no meio da rua, rindo e chorando ao mesmo tempo.
Os apelos eram claros: “- Todos deviam permanecer em absoluta calma, de preferência em casa, até novas informações.”
E, qual espanto, ouviram mesmo a Grândola do Zeca Afonso, no pequeno rádio a pilhas, roufenho, cujo som parecia saído de umas cordas vocais que tivessem inspirado hélio.
- Vamos para a Praça?
E foram, tomando o primeiro carro elétrico que se dirigia até lá.
A multidão era imensa!
Ouviram-se tiros que fizeram gente anónima correr e gritar.
A polícia carregava sobre a população tentando encaminhá-la para a rua de Ceuta onde se encontravam as carrinhas celulares prontas a amontoar os amotinados.
Subitamente surgiram camiões e tanques ligeiros do MFA, Berlietes e Panhards.

Um megafone, empunhado por um soldado graduado, fez-se ouvir do alto dum veículo militar de canhão apontado: “-Ou se rendem, ou disparamos! Larguem as armas!”
O povo em cólera voltou-se contra a polícia que desesperadamente tentava alcançar as carrinhas onde se tinha transportado.
A caça fez-se caçador. A polícia tudolargava: cassetetes, escudos, capacetes e até crachás, perante a multidão que avançava desenfreadamente em incontrolada fúria. Os vidros das carrinhas policiais foram partidos e agentes agredidos.
E por fim uma paz reinante aconteceu apenas acordada com vivas ao MFA e gritos de fascismo nunca mais.
Como por encanto apareceram cravos vermelhos que foram distribuídos pelos soldados e colocados no cano de metralhadoras.

Hoje, o outrora resplandecente cravo vermelho plantado em tubo de negro aço que cheirava a pólvora, apodreceu na terra carenciada de adubo pelas mãos governantes que se adubam a si próprias!...




Fernando Magalhães


quinta-feira, 8 de março de 2012

Canção (À Mulher)

Já nasceu o dia
Há o filho
Há a filha
Roupas para vestir
Pequeno-almoço
Rápido
Com esforço
Mas com amor para dar
E o relógio
Hora a hora
Escorre lento
Na demora
Há recomendações
E sermões
Enquanto a sacola é feita
Há o nada de ser tudo
No momento de atuar
Transportar até à escola
E percorrer mais o tempo
Até ao emprego que espera
E o relógio
Hora a hora
Escorre lento
Na demora
E picar o ponto
Mesmo em último momento
Há preocupação todo o dia
Papéis
Recados
Correria
Há sarilhos
Agonia
E o relógio
Hora a hora
Escorre lento
Na demora
E mais um dia a acabar
E tudo volta a rolar
No cansaço de voltar
Há a escola
Há a casa
O jantar
E TPC´s para acabar
E o relógio
Hora a hora
Escorre lento
Na demora
Lavar os dentes
Deitar
Uma história para contar
Até ao adormecer
Um beijo de boa-noite
Apenas por que quer ser
Mãe presente
E ser Mulher

Fernando Magalhães 

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Colheres de Pau | Entrega dos prémios do concurso

Fotos Fernando Magalhães
Cerimónia de entrega de prémios do Concurso/Exposição de Colheres de Pau, no Salão Nobre da Câmara de Vila do Conde. Concurso integrado no programa tradicional da Feira Grande de Janeiro. Na cerimónia participaram o presidente da Câmara Municipal, os alunos premiados, familiares e representantes das escolas EB 2,3 e secundárias do concelho.



quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

E agora professor? | Fernando Magalhães




E agora professor
o que fazer afinal?
Quando as matérias estão dadas
e as esperanças frustradas
já em período final
E agora professor?
Quando tudo já está visto
e revisto
e sem remédio
quando as contas já estão feitas
e as expectativas desfeitas
e o sucesso falseado?
E agora professor
poderás tu combater
as estruturas caducas
incógnitas 
cegas e frias
colocadas sem dever
no poder que te revolta
O que és tu professor
o pai  o amigo  o irmão
ou apenas sem saberes
Brinquedo da Educação!
E agora professor
o que é avaliar
conjugar raiva com dor
ou educar com o verbo amar?









segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O nascimento de uma colher de pau | Fernando Magalhães



Ainda no ventre da mãe que me protegia como árvore, sorvia a seiva da vida e, feliz, pensava que salvava a Terra. Perdi a noção do tempo feito calendário de consecutivos anos. Nas várias estações que se sucediam, no calor de um verão, nas chuvas e neves de um inverno, nas intempéries que aconteciam, dando conta sem sentir, povoadas de ventos e trovoadas que sacudiam o meu cordão umbilical. Descansei na sombra que ajudava a produzir, nos ninhos de pássaros que abrigava, nos frutos que fabricava e que tão apreciados eram pelos humanos. Fazendo parte de um todo, contribuía com a minha parcela de nada, na imensidão da mãe à qual pertencia. Um dia, um ruído aterrador que alvoroçava aves e animais que tinham construído o seu abrigo na face das minhas folhas e na alma da minha raíz, despertou a floresta.
“O que seria?”, inquiria assustada pelo estrépito que espantava asas e fazia correr pequenos mamíferos sem destino aparente.
O som era intrigante, metálico lancinante, rasgando o silêncio feito dor. Um motor cuspindo fumo, rangendo dentes metálicos, cravou-se nas minhas entranhas, roendo-me a pele, retalhando-me os músculos, artérias, ossos e coração. Sem me dar conta, caí em cima de irmãs que já tinham sucumbido em lamentosos ramos, que se elevavam em derradeira súplica para um céu já tingido de vermelho de sol poente. Fui arrastada e içada para um grande veículo com rodas que ronceiramente me transportou para um enorme e escuro barracão. Acordei com um guincho estrídulo que compassadamente arremetia e por breves momentos cessava, voltando logo de seguida a investir com mais vigor. Espalhavam-se parcelas de troncos e ramos por todo o lado. Fiquei num canto, desmembrada, abatida, sem saber o que iria acontecer.
“Esta serve para o que pretendo, é uma óptima madeira!”, escutei uma voz e, como parcela do que tinha sido uma árvore, fui transportada nas mãos calejadas de um humano.
Deu-me voltas e mais voltas, escavando-me, dando-me uma forma estranha com uma concavidade que se prolongava. No entanto uma sensação de carícia na maneira como era modelada, invadiu a minha alma de madeira e fez-me sentir a paz nostálgica do que tinha sido e do que estava para ser.
“Pronto, és uma bela colher de pau!”, ouvi dizer.
Não tinha consciência do que aquilo significava. O que seria uma colher de pau? Após ter pertencido a uma árvore que vivia numa floresta sem limitações formais, confinada agora a um objeto, deixei-me perder no vazio do sonho de quem não sabe se efetivamente já tinha sido concebido, ou ainda se encontrava preso a conjeturas de poder vir a ser. Mas afinal já era, quando umas pequenas mãos me tocaram e disseram:
“Vou-te transformar na mais bela colher de pau que vai aparecer na Feira Grande de Janeiro!”
E uma voz infantil, cantando, ia dizendo:  
“Tu és tudo que me resta,
para poder semear
uma mágica floresta,
nesta terra de encantar,
Vila do Conde, espraiada
entre pinhais, rio e mar…”