Olho-me ao espelho:
- O reflexo que vi
ontem aparenta o mesmo aspeto de hoje.
No entanto há
fotografias em casa, de há muitos anos atrás e, embora me reconheça por ter
existido, a figura impressa revela uma outra que já existiu.
Na aparência que se
transformou, não existe no íntimo mutações intransponíveis. Sei que sou esse,
sem mistérios ou transmutações. Eu, quando era, quando fui e enquanto sou.
Nos embates diários da
vida, teria sido aquela imagem estagnada em papel, sempre a mesma?
Procuro-me no tempo e
descubro que assumi outras faces, outros retratos, outros esgares, outras
posturas de olhos e semblantes, de acordo com predisposições, embates,
discursos, encontros fortuitos, entrevistas, conquistas de amor, perdas com dor
ou sem ela, paternidades de educação e insolvências de querer ser aquilo que
não sou.
Máscaras!
Apenas máscaras que se
desdobram no quotidiano das coisas sem valor e dos acontecimentos que temos de
valorizar.
Assumo as
consequências de sobrolho franzido, quando o orgulho não me permite voltar
atrás.
Arqueio sobrancelhas
interrogativas, quando não existe uma resposta que me elucide.
Arregalo os olhos,
quando a dúvida se instala e instiga a uma débil e não fundamentada afirmação.
Mostro dentes de
raiva, quando me ofendem sem razão.
Os olhos saltam das
órbitas e a boca abre-se de estupor, quando a agressividade me atinge.
...Tanta máscara em
tão pouco rosto!...
Tantos rostos
diferentes numa cara só!
É a máscara!
Que usamos sem darmos
conta no quotidiano absurdo que se instala no espírito.
Nas tragédias que não
são gregas, nas comédias que não são carnavais.
É a máscara da origem
do ser!
Da cosmogonia que
pretendemos alcançar!
Máscara que sou eu sem
saberes se és tu!
Interrogativamente
efémera e sem explicação.
Catarse de alma e
catalepsia de estar.
Máscara de todos os
dias, que um carnaval não explica, pela simples e mera razão de se usar uma
máscara que não é a nossa!
Fernando Magalhães 08/02/2013
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