Sinto-me num país agonizante.
Percorro ruas desertas de comércio de portas
fechadas.
E em cada passo que dou respiro o ar pustulento
duma economia moribunda.
Percorro campos de cultivo onde as ervas daninhas
proliferam estrangulando o que a terra paria em agricultura que preenchia
necessidades e colmatava fomes.
Passeio junto a um mar que em maré alta de
vergonhosos acordos já não carduma o lusitano peixe, afundando a frota pesqueira
e importando espécies não autóctones, que inundam superfícies comerciais e
mercados que outrora reflectiam a faina de um povo.
Sinto em cada dia que passa a exânime indústria,
que encolhida, desaparece às mãos das grandes multinacionais que vomitam máquinas
e adereços, roupas e outros acessórios que outrora construíamos.
Vejo com olhos magoados a construção desaparecer e
postos de trabalho a perecerem.
Assisto, sem nada ver decretar, as empresas que se
afogam sem bóia de salvação, arrastando para o abismo o português de raiz…
…Que procurando um emprego o mandam emigrar,
emagrecer, sucumbir, sem saber o que fazer.
Assisto à cultura morrer, ao ensino a expirar, como
convém afinal.
Povo inculto não faz frente, é uma sombra aparente
ao embuste nacional!
Sinto na alma famílias no desemprego lançadas, que
com filhos passam fome em silêncio envergonhado.
Ouço ecos de prantos e gritos, de suicídios, de
impotência, de lágrimas que a nada conduzem e na madrugada fenecem.
Vejo olhos em súplica ao céu levantados, esperando
que a justiça caia em vingança cruel.
Que políticos são estes, que criando mais impostos,
roubam ao povo a dignidade e se governam a si próprios?
Onde pára a liberdade neste país já sem rumo?
Sinto o sangue latejar na vontade da revolta.
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